Não posso, nem devo deixar o Hospital de São Luís (HSL), por imperativo de consciência, sem um testemunho da configuração tecnicamente elevada e proficiente dos cuidados de saúde que me foram prestados, core business da instituição, embrulhados com mestria na forma simpática e carinhosa como fui tratado.
Começo com o que me trouxe aqui, uma cirurgia (prótese da anca) efectuada pelo Dr. Pedro Simas, “o mágico”, que me pôs a pé no dia seguinte?! – que depois de 29 anos do primeiro diagnóstico, várias opiniões e experiências alternativas –, e ao fim de, sensivelmente, dois anos de empatia me deu a confiança necessária para, quem é avesso a estas aventuras, avançar!
Deixo uma palavra de apreço a toda a sua equipa que apesar do desconforto e ansiedade da entrada (pela primeira vez) numa sala de operações, ao fim de alguns minutos me deixou tranquilo e zen: Dr.a Filipa Duarte, de quem realço a meiguice do trato/picada; Dr. João Esteves; enfermeiros Dina Araújo; Ribeiro (Viana e Braga), com quem brinquei, entre outras coisas, sobre o aprumo do corte de cabelo; e Rafael (Coimbra), com quem relembrei a vida na briosa cidade nos anos 89/90.
Continuo, com a referência ao enfermeiro Fernando Lousa que me acompanhou/velou pela noite dentro e que, juntamente e de acordo, com o enfermeiro Barbosa (sempre presente), me propiciaram uma experiência in extremis (algália), bem invasiva das minhas partes pudendas, muito mais marcante, perdoem-me o exagero pelo excesso de desconforto causado, que a própria cirurgia.
Refiro o carinho com que fui sendo apaparicado com as comidinhas preparadas/retocadas pela D. Fátima Bernardino (Bernardete) e com o seu ‘café das baratas’ – que mantive a par da restante medicação!, e me fizeram sentir em casa. Cuidado continuado pelas auxiliares Jesus, Ana Galamba e Anita (espero não estar a falhar nenhuma…).
No transporte para a cirurgia e regresso para o quarto, ficou-me a alegria, continuada no trato, expressa no rosto da Auxiliar Sandra de Benguela (Rainha Ginga); e a ternura da enfermeira Catarina (medalhas do avô), que me acompanhou até à saída.
Continuo a elencar, ao sabor da escrita e à medida que vou revivendo os acontecimentos – sob pena/receio de me esquecer de alguém, falha de que me penitencio desde já –, todos os que representaram/ consubstanciaram o espírito do lugar (genius loci), que me fez sentir sempre tranquilo e acompanhado: enfermeiro José, o cuidadoso, que me recebeu e deu início às hostilidades, me levou para a cirurgia e que, no dia seguinte, acompanhando o “mágico”, que me pôs a pé e retirou o cateter vesical, me expurgou da coisa começada por “al…”, que não deu alegria, nem ao sair; a enfermeira Paula Maia e a auxiliar Helena com quem teci considerações sobre as vantagens das mulheres que gostam de comer; Eugénio, técnico de imagiologia, que garantiu uma boa foto do acrescento; o enfermeiro Vítor Santos, o meu vigilante da última noite, também de 1960, que me acompanhou com disciplina e rigor de anjo da guarda assumido; fecho com o Dr. Silva Martins que pairou majestaticamente como a águia, observando e acompanhando todas as
manobras ao meu redor, com quem falei de portugalidade e de descendência clubística.
Por último, uma palavra para aquela que, sempre na sombra, me indicou o Dr. Pedro Simas e o HSL e cuidou à distância, sem interferir directamente em nada, para que tudo corresse como tento descrever nestas linhas.
Atendendo à presença ou omnipresença pessoana na casa termino com:
“O marinheiro que contra o Mostrengo,
Atou as mãos ao leme,
Por ordem de el-rei D. João II,
E cuja tenacidade e esforço,
Fizeram com que o Mar ficasse Salgado,
Por lágrimas de Portugal”.
Lisboa, HSL, noite de 23 de Junho de 2018.
(Revisto e acrescentado à saída, depois de mandado para casa pelo Dr. Pedro Simas, ao
terceiro dia.)