Os tempos são de mudança: no tecido social, nas políticas, nos sistemas e organizações de saúde, nas unidades de cuidados, enfim, na própria enfermagem, que é uma profissão de mudança.“ Compete, pois, a cada um, justificar a sua presença na equipa, dando a conhecer, não só por palavras, mas também por atos, a natureza do seu contributo pessoal para a melhoria da Saúde”.
O exercício da enfermagem está em mudança: ao simples, sem bem que importante, ato de cuidar, vêem-se juntando outras atuações, outras perspetives, outras responsabilidades.
A enfermagem torna-se a cada passo mais abrangente nas suas funções e competências, sem que isso signifique um afastamento dos seus objetivos básicos. Dispomos, na verdade, de meios únicos em termos de proximidade perante o utente, facilitadores do exercício da arte de cuidar, que culminam nas unidades de internamento. A nossa relação com as pessoas não pode nunca ser substituída, ultrapassada ou, ainda menos, subestimada.
De entre todos os profissionais envolvidos no contacto com os utentes da Saúde, somos os que utilizam mais meios e dispõem de mais tempos de Acão e é neste contexto que a mudança se nos afigura mais profunda: são assim crescentes as nossas inquietações, porque são cada vez maiores as nossas responsabilidades.
Os cuidados de enfermagem são, segundo Walter Hesbeen, compostos por múltiplas ações, que são sobretudo uma imensidão de pequenas coisas. “Os enfermeiros têm sempre a possibilidade de fazer mais alguma coisa por alguém, de o ajudar, de contribuir para o seu bem-estar, para a sua serenidade, mesmo nas situações mais desesperadas”. Esta mais-valia relacional centrou os nossos objetivos, mas colocou-nos perante múltiplas questões e problemas, para cuja solução tivemos que adquirir diferenciação técnica e obter a necessária formação superior.
Hoje, ser-se enfermeiro é cada vez mais complexo, mais difícil, mas também mais estimulante: os desafios impõem que assumamos maiores responsabilidades e delas tenhamos cada vez mais uma consciência mais esclarecida, competente e profissional. A nossa intervenção transcende desde há muito a ancestral imagem duma intervenção passiva e silenciosa. Multiplicando ações, intervindo de uma forma holística e científica, vimos merecendo a consideração e o respeito dos outros profissionais e conquistando a confiança dos nossos doentes.
Virámos já a página da afirmação da nossa autonomia profissional e, agora, os desafios são outros: intervimos na gestão de recursos, somos dirigentes de instituições, participamos na administração de organizações de saúde, ocupamo-nos da análise e resolução dos problemas da Saúde. E, tudo, sem deixarmos de cuidar dos doentes, nem descurarmos as nossas responsabilidades primordiais.
Ana Cristina de Sousa Lopes, Enfª Coordenadora do Internamento do HSLouis
(Enfermeira Especialista em Reabilitação e
Mestre em Gestão dos Serviços de saúde)