Apresentamos-lhe nesta edição da Newsletter do Hospital St. Louis as principais conclusões do estudo levado a cabo pelo Prof. Dr. Jorge Gonçalves.
Conclusões principais do estudo (factores de mortalidade relevantes):
- Maior número de pessoas em lares de idosos em proporção em relação à população total, maior mortalidade. Como é que tratamos os nossos idosos é a questão principal. Muitas pessoas em lares de idosos e lares maiores ajudam à disseminação de vírus, pois concentram a população de risco.
- Poluição aumenta a mortalidade, provavelmente através de uma maior prevalência de doenças respiratórias e menor capacidade do sistema imu-nológico.
- Maior temperatura e raios solares, menor mortalidade.
- Maior prevalência de can-cros do pulmão, diabetes e hipertensão, maior morta-lidade.
- População mais enve-lhecida, maior mortalidade.
- Maior densidade popu-lacional e urbanização, maior mortalidade.
- Maior tráfego aéreo, maior mortalidade.
- Quarentenas obrigatórias a viajantes reduz mortalidade.
- Maior a redução de Mobi-lidade em espaços públicos (consequência da quarentena), maior a mortalidade. Também não reduziu o influxo de pessoas nas unidades de saúde nas semanas seguintes à quarentena. No estudo foi analisada a mortalidade das semanas 3 a 7 a seguir à implementação das medidas.
Duas observações principais:
- A maior parte das mortes são em lares de idosos. O director da OMS para a Europa diz que por causa da quarentena faltaram trabalhadores (a Misercordia, diz que baixaram 50% dos funcionários nos lares) e testes nos lares de idosos e que isso levou a grande mortalidade neste grupo de risco.
- Fechar as pessoas em casa, embora reduza, em geral, os contactos entre pessoas, prolonga/aumenta os efeitos do inverno que faz com que os vírus sejam mais mortais nesta altura do ano por três razões: a) maior contacto entre pessoas dentro de casa respirando o mesmo ar e tocando nos mesmos objectos (o que permite ao vírus passar em maior quantidade/dose de pessoa para pessoa – é como com as vacinas, pequenas dosagens de vírus fazem-nos imunes, se a dose for forte, ficamos doentes); b) menor capacidade imunológica das pessoas (apanham menos sol); c) mais fácil o vírus passar de pessoa para pessoa em ambiente fechado dentro de casa sem exposição solar directa.
Um vírus tem mais dificuldade em se propagar ao ar livre. Tal como recentemente se “descobriu”, o contágio do Cov-Sars-2 em espaços fechados é 19 vezes maior do que em espaços abertos (proibir idas a parques, praias, esplanadas é o oposto do que se deve fazer para dificultar a transmissão). Também se está a “descobrir” que se pessoas ficarem muito tempo umas com as outras aumenta a passagem do vírus de maneira a que este possa ser mortal (em Portugal, agora com o cov-sars-2, 45% das transmissões foram dentro de casa). Também agora se “descobriu”, que pessoas levemente infectadas ganham imunidade durante algum tempo (é o principio das vacinas) – ou seja, o problema é a intensidade da transmissão (a tal dosagem). Quando os primeiros casos são encontrados na comunidade, é porque já há muita gente com o vírus, por isso fechá-las em casa é dar as condições ideais para a sua transmissão.
Jorge Gonçalves é Doutorado em economia pela Universidade Técnica de Berlim, Mestre em Economia de Desenvolvimento e licenciado em Economia pela Universidade Nova de Lisboa. É um dos fundadores da Cooperativa Integral Minga em 2015, em Montemor-o-Novo, sendo actualmente o seu presidente. Trabalhou em projectos de desenvolvimento rural na India (saúde pública e microcrédito), Tailândia e Indonésia (agricultura) entre 2006 e 2008, e foi coordenador entre 2013 e 2019 de estudos de impacto na área das energias renováveis em vários países da América Latina e Caraíbas (p.e. Argentina, Uruguai, Brasil, Panamá, Costa Rica, México, Peru, Saint Lúcia) como consultor para a PTB (Alemanha). Está envolvido também na criação de uma moeda local para Montemor (Associação A.Mor, fundada em 2018).
Texto: Jorge Gonçalves